quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Freud explicou!

Perfil de Freud; O complexo de Édipo e outras teorias desenvolvidas por ele.

A Psicanálise já se incorporou ao nosso dia-a-dia. Palavras como inconsciente, líbido, ou neurose viraram de uso comum, embora nem sempre se saiba o ue querem dizer. Quando surgiu, porém, no final do século passado, essa teoria foi combatida ferozmente e seu autor, Sigmund Freud, submetido a pesadas acusações. Mas não desanimou. O que o movia era a vontade de explicar, antes de tudo, a si mesmo e vencer os demônios que o atormentavam.

Por José Tadeu Arante - Fonte: Super Arquivo.

Quando tinha 7 anos, Sigmund Freud ouviu o pai dizer num momento de mau humor: "Esse menino nunca vai ser nada na vida". Ele só tornaria a lembrar essa frase, a muito custo, aos 41 anos. Então, naquele finzinho do século XIX, era um médico brilhante em Viena, a celebrada capital do Império Austro-Húngaro. Era também um cientista fascinado pelos mistérios do psiquismo humano e isso o levou a empreender uma longa e dolorosa viagem ao interior de si mesmo.
Essa busca do autoconhecimento consumiu-lhe três anos e permitiu que libertasse do porão da memória episódios traumáticos da infância como a morte do irmão menor e a culpa que isso lhe provocou ou a perturbadora visão da mãe nua. Para defender-se dos fantasmas do passado, ele havia transformado a própria infância numa paisagem nublada, quase irreconhecível. Mas ao dissipar-se a névoa, graças ao extraordinário esforço para reconstituir o tempo esquecido, percebeu que, sem saber, passara a vida tratando de impedir que aquilo que lhe pareceu uma profecia paterna se cumprisse. Conseguiu, como se sabe. Fundador da Psicanálise, um dos mais originais pensadores dos tempos modernos, Sigmund Freud a tal ponto marcou a ciência, a cultura, a arte e a vida das pessoas que já nem se pode imaginar o século XX sem ele. Afinal, como se diz no Brasil, Freud explica.
Seu interesse pela mente humana manifestara-se anos antes da autoanálise que acabaria abrindo as portas para um novo território do conhecimentocom certeza em 1882, quando era médico-residente no Hospital Geral de Viena e tornou-se assistente do anatomista Theodor Meynert, o todo-poderoso chefe do Departamento de Neuropatologia. A trajetória de Freud havia sido, até ali, uma seqüência de brilhantes sucessos.
Com apenas 9 anos, ingressara no ginásio, para logo se tornar o primeiro da classe e se graduar "com louvor". Aos 17 anos, já estava na Universidade de Viena, como estudante de Medicina, movido por uma enorme vontade de saber. Não fora fácil escolher a Faculdade de Medicina: seus interesses intelectuais puxavam-no para vários lados. Também dentro da faculdade foi difícil escolher uma especialização. Decidiu-se finalmente pelo curso de Fisiologia, de Ernst von Brücke.
Brücke, como Meynert, era um ardoroso partidário da opinião do físico alemão Hermann von Helmholtz (1821-1894) de que "nenhuma outra força além das conhecidas forças físico-químicas é ativa no organismo". Para eles, a Biologia e conseqüentemente. a Medicina não eram mais ue extensões da Física. Essas idéias, que as investigações psicanalíticas de Freud o forçaram a abandonar anos mais tarde, não deixaram, porém, de influenciar o seu pensamento.
Freud concluiu o curso de Medicina com excelentes notas. e tudo parecia encaminhá-lo para a pesquisa científica, atividade em que já havia dado mostras de grande talento nos tempos de estudante. Absolutamente convencido de que estava destinado a ser um grande homem, a cada passo pensava o que seus futuros biógrafos escreveriam a respeito. Sua fantasia correspondia plenamente aos desejos dos pais, comerciante de lã Jakob Freud e sua mulher, Amalie Nathansohn.
Quando Sigmund nasceu, no dia 6 de maio de 1856, na cidadezinha de Freiberg, Morávia (hoje Pribor, Tchecoslováquia), primeiro dos seis filhos do casal Freuddois homens e quatro mulheres, um fato deu ao comerciante Jakob a sensação de que estava diante de um acontecimento excepcional. O menino veio ao mundo envolvido na membrana amniótica, e isso foi interpretado como augúrio de um futuro brilhante. Seus pais nunca abandonaram essa perspectiva dando-lhe um tratamento privilegiado em relação aos irmãos: o melhor quarto da casa era dele; uma irmã foi proibida de tocar piano, porque isso perturbava os seus estudos.
Outro fator influenciava também a ambição do jovem Freud. A consciência de ser judeu num mundo anti-semita. Isso era sinônimo de um esforço sem trégua: se o judeu não pudesse provar que estava entre os melhores, diriam automaticamente que era o pior. Mas, quando concluiu o curso de Medicina, aos 22 anos, em 1882, um fato veio alterar os planos que tinha traçado para si mesmo: a súbita paixão e a perspectiva de casamento com Martha Bernays seu único relacionamento amoroso conhecido. A necessidade de fazer dinheiro rapidamente para sustentar uma futura família o levou a trocar a pesquisa científica pela residência médica, com vistas a montar uma clínica particular.
O noivado com Martha foi uma experiência turbulenta. Como ela morasse em outra cidade eles se viam pouco, mas Freud lhe escreveu nada menos que novecentas cartas, algumas ardentemente apaixonadas. Quando se encontravam porém, a possessividade e o ciúme doentio de Freud quase punham tudo a perder. A falta de dinheiro, de qualquer forma, foi adiando o casamento, sucessivamente, até 1886. Depois que se casaram, a relação tornou-se morna e rotineira. Mas eles nunca se separaram.
Nesse meio tempo. a vontade de saber e o desejo de notoriedade voltaram a empurrar Freud para os braços da ciência. Como assistente de Meynert e logo livre-docente em Neuropatologia, fez importantes pesquisas sobre a medula e também sobre os efeitos do uso da cocaína. Freud contava com a própria experiência: numa época em que a droga não era proibida nem sofria qualquer tipo de interdição, ele era um consumidor habitual.
Por influência de Brücke e para desapontamento de Meynert, Freud obteve da universidade uma bolsa de estudos para um estágio de alguns meses em Paris, para estudar com o célebre Jean-Martin Charcot, no hospital da Salpêtrière. Antes de partir, queimou um diário intimo que cobria nada menos que catorze anos de vida.
Freud, então, estava intensamente interessado no fenômeno da histeria, área em que Charcot vinha realizando experiências pioneiras e absolutamente espetaculares mediante o uso da hipnose. Para Meynert, como aliás para toda a Psiquiatria ortodoxa da época, a histeria era simplesmente uma falsa doença.
As mulheres histéricas (a histeria era considerada algo que só afetava as mulheres) eram vistas como meras fingidoras e Charcot, como charlatão.
Um dos grandes méritos de Freud foi ter levado a histeria a sério, dispondo-se a ouvir as pacientes com atenção e respeito. Por alguma estranha intuição, ele sabia que o desvendamento dos conflitos íntimos que atormentavam a si próprio dependia da compreensão do que se passava com aquelas infelizes mulheres. Quando decidiu mergulhar de cabeça no estudo da mente humana, adotou como lema a célebre inscrição gravada no pórtico do templo de Apolo em Delfos, Grécia: "Conhece-te a ti mesmo".
Antes de partir para o decisivo estágio em Paris, Freud estudara a histeria em Viena, em intima colaboração com Josof Breuer, que vinha tratando, com excepcional dedicação, um caso de histeria que se tornou clássico na história da Psicanáliseo de Fraulein (senhorita) Anna O., pseudônimo de uma jovem de 21 anos, de altos dotes intelectuais, que após a morte do pai passou a apresentar variados sintomas psicossomáticos, como sérias perturbações de visão e audição, freqüentes paralisias nos membros, incapacidade de comer e beber, estados de ausência etc.
Utilizando-se da hipnose, Breuer conseguiu que sua paciente recordasse as cenas traumáticas que haviam desencadeado a neurose, todas elas relacionadas com o estado de extrema tensão emocional vivida durante a longa doença e a morte do pai. Verificou também, espantado, que o simples fato de narrar as cenas produzia em Anna um alivio imediato dos sintomas psicossomáticos. Esse procedimento, adotado repetidas vezes, num tratamento persistente e prolongado, levou à eliminação de praticamente todos os sintomas. Mais tarde, Freud mostraria que os traumas psicológicos como os vividos por Anna eram apenas os elementos deflagradores da neurose, cuja verdadeira origem deveria ser buscada muito atrás, na mais remota infância do doente.
Quando voltou de seu estágio em Paris, Freud publicou juntamente com Breuer os Estudos sobre a Histeria, uma espécie de marco inicial da Psicanálise. Então, ele já havia substituído na investigação psicológica o método catártico provocado pela hipnose pelo método da livre associação (veja o quadro da página 39 ).
Logo Breuer deixaria de acompanhar Freud em sua crescente convicção sobre a origem sexual das neuroses. Freud arrumou, então um novo interlocutor, o otorrinolaringologista Wilhelm Fliess, homem de idéias ousadas e altamente interessado na natureza da psique humana. Nessa época, cada nova hipótese ou descoberta era vivamente comentada na imensa correspondência entre Freud e Fliess.
Mas também essa colaboração com Fliess estava destinada ao malogro. Como o próprio Freud descobriria mais tarde, ele transferia a vários homens de sua convivência os intensos e complexos sentimentos de amor e ódio que tinha em relação ao pai. Brücke, Meynert, Breuer e Fliess foram, todos eles, objeto dessa transferência afetiva. Amores arrebatadores e ódios furiosos se alternavam sem parar em sua vida emocional. Só a autoanálise permitiria a Freud exorcizar o fantasma da figura paterna.
Quando iniciou a auto-análise Freud estava convencido de que a causa da histeria era "uma experiência sexual passiva ocorrida antes da puberdade, isto é, uma sedução traumática". Ele associava a neurose à carga erótica presente, mesmo quando bem disfarçada e não percebida pelas pessoas, nas relações entre pais e filhos. Após ter observado sintomas histéricos no irmão e nas irmãs, concluiu que também seu pai não estava livre do que chamou de "incriminação incestuosa".
O prosseguimento da auto-análise e as análises de vários pacientes realizadas nessa mesma época logo lhe mostraram, porém, que, embora o sentimento incestuoso dos pais realmente existisse e fosse às vezes até levado à prática, a grande maioria das supostas seduções ocorridas na infância era um produto da fantasia das crianças: eram elas que experimentavam um intenso desejo de manter relações sexuais com os pais geralmente com o genitor do sexo oposto. Eis uma das mais arrojadas e controvertidas contribuições de Freud ao conhecimento humano: a idéia de que a sexualidade começa antes, muito antes de manifestar-se nas transformações que ocorrem na puberdade.
Ele enfrentou com determinação a hostilidade dos meios conservadores a suas idéias. A excitação da descoberta científica o empurrava para a frente e os progressos na interpretação de seu próprio mundo psíquico lhe traziam crescente autoconfiança. Freud trocava o papel de filho pelo de pai: pai de seis filhos em seu casamento com Martha e pai da Psicanálise. A partir de 1902, começa a se reunir em sua casa o círculo dos primeiros seguidores da nova teoria. O grupo, formado inicialmente por Alfred Adler, Max Kahane, Rudolf Reitler e Wilhelm Stekel, além do próprio Freud, se encontra pontualmente toda quarta-feira depois do jantar.

Em 1908, o grupo já tem 22 membros, entre eles o médico suíço Carl Gustav Jung, dezenove anos mais moço que Freud e a quem este se referia como "querido filho e herdeiro". Nesse mesmo ano, o círculo se transforma na Sociedade Psicanalítica de Viena e, em 1910, na Associação Psicanalítica Internacional, com Jung na presidência por determinação de Freud. Mas, no ano seguinte, quando Jung rompe com Freud após uma série de desentendimentos por causa da "excessiva importância" que este concedia à sexualidade, Freud comentou "Finalmente estamos livres do bruta santarrão". O santarrão ia por conta do misticismo de Jung, intoleravelmente racionalista do outro.
A capacidade de trabalho de Freud era verdadeiramente espantosa. Ele acordava às 7 horas e, depois do café da manhã e de uma rápida olhada nos jornais, começava a atender seus pacientes pontualmente às 8 horas. Cada sessão durava exatamente 55 minutos. Nos cinco minutos que restavam para fechar a hora, ele subia a escada que ligava o andar em que se encontravam o consultório, a sala de espera e o escritório particular ao andar superior, onde vivia a família.
As sessões se prolongavam até as 13 horas, quando a família se reunia para o almoço. Freud era um pai carinhoso e proporcionou a seus filhos uma formação bastante livre, pelo menos em comparação com os rígidos padrões germânicos do começo do século. Quando havia convidados para o almoço, porém, seu silêncio e introspecção costumavam criar situações extremamente embaraçosas.
Depois do almoço, um curto passeio a pé pelas tranqüilas ruas de Viena e a compra dos charutos favoritos. Freud chegava a fumar até vinte charutos longos por dia. Mas, quando seus seguidores lhe propuseram uma explicação psicanalítica para o vício, ele a recusou. bem-humorado.
As consultas recomeçavam às 15 horas e se estendiam muitas, vezes até as 9 ou 10 da noite. Depois disso tudo, Freud ainda arrumava energia para escrever. Apesar do estafante rítmo de trabalho, havia tempo para o lazer. Ele era um grande jogador de xadrez e também gostava de paciência. Freqüentava às vezes o teatro, mas em matéria de ópera só gostava de Mozart, sobretudo Don Giovanni, e da Carmen de Bizet. Tinha enorme fascinação por objetos de arte antigos e sua coleção particular. com mais de 2 500 peças, principalmente egípcias. gregas e romanas, era maior que a de muitos museus.
Freud conhecia a fundo os clássicos da literatura: os gregos, Shakespeare, os grandes poetas alemães (principalmente Goethe), os romancistas franceses Balzac, Flaubert e Maupassanp e os russos Dostoievski e Gogol. Ao lado dos interesses intelectuais, tinha também grande prazer nas atividade físicas: nadava bem, patinava, caminhava muito e rápido. Aos 65 anos, participando de excursão pelas montanhas do Harz, na Alemanha, vence facilmente colegas 25 anos mais moços, tanto em resistência quanto em velocidade.
Freud havia se fixado a meta de produzir pelo menos três linhas por dia, mas nem sempre era fácil vencer o branco do papel. Outras vezes, porem, as idéias jorravam fácil e ele era capaz de produzir uma importante obra científica em apenas alguma semanas. Escreveu dezessete livros e dezenas de artigos. Seu estilo literário é brilhante, mas dependia daquilo que ele chamava uma "moderada quantidade de miséria" pessoal: ou seja, Freud supunha que quando tudo ia bem demais na sua vida o texto não saia bom.
Misérias pessoais nem sempre moderadas não lhe faltaram ao longo da vida. Houve as intermináveis brigas no interior do movimento psicanalítico. Houve o câncer na boca, provocado seguramente pelos charutos. Os primeiros sintomas apareceram em 1917. Em 1923 ele foi submetido à primeira operaçãoa primeira das 33 que sofreria, numa escalada infernal de dor e desconforto. que suportou com extraordinário autocontrole, sem poder recorrer sequer ao conforto da religião. dado seu ateísmo radical. Com a filha predileta, Annaque se torna também uma importante psicanalista e uma espécie de zelosa guardiã de seu legado teórico. ele fez um pacto: a doença deveria ser encarada sem sentimentalismo, com frio distanciamento.
E houve, enfim o nazismo. Quando a Alemanha de Hitler anexou a Áustria, em 1938, e os nazistas invadiram sua casa, Freud os enfrentou com tanta fúria que momentaneamente os deixou paralisadose ele se livrou da ameaça iminente de agressão física. A permanência em Viena, porém, era algo fora de cogitação: cedendo aos insistentes chamados do psicanalista inglês Ernest Jones, que viria a ser também seu principal biógrafo, Freud. então extremamente doente, com 82 anos, concordou em seguir para a Inglaterra.
Um movimento internacional de pressão forçou as autoridades nazistas a lhe permitirem a saída. Em Londres passou seus últimos meses trabalhando quase até o fim: seu derradeiro livro, Moisés e o Monoteísmo, foi concluído em 1939: no dia 23 de setembro daquele ano ele morreu. Seu corpo foi cremado e as cinzas guardadas numa urna grega de sua coleção. Encontram-se até hoje no cemitério judaico de GoldersGreen, em Londres.

Como um sherlock da psique

Na mitologia grega, o rei de Tebas, Édipo, matou Laio, sem saber que este era seu pai, e casou com Jocasta, sem saber que era sua mãe. Esse trágico triângulo amoroso, segundo Sigmund Freud, seria revivido na fantasia de todas as crianças, geralmente antes dos 5 anos de idade, quando, de alguma forma, elas experimentariam desejo sexual em relação ao genitor do sexo oposto, além de fortes sensações de rivalidade e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo.

A expressão complexo de Édipo só foi empregada, pela primeira vez, em 1910; seu conceito se formou, porém, mais de dez anos antes, no bojo da auto-análise de Freud. A sexualidade infantil se manifestaria já nos primeiros momentos de vida e passaria por várias fases oral, anal, fálica e genital. Esse processo, porém, nem sempre transcorreria de modo perfeito; as inibições em sua trajetória caracterizariam muitos distúrbios da vida sexual. A fixação da líbido ou energia erótica em fases infantis do desenvolvimento sexual seria responsável pelas perversões sexuais dos adultos, entre as quais Freud inclui o homossexualismo.

As distorções no desenvolvimento sexual do indivíduo seriam, segundo Freud, a principal causa da neurose desordem mental caracterizada por ansiedade, mal-estar psicológico, sensação de infelicidade desproporcional às circunstâncias reais da vida da pessoa. As neuroses, formadas geralmente por volta dos 6 anos de idade, seriam justamente uma resposta da mente consciente ao conflito inconsciente entre os impulsos instintivos e os padrões de comportamento impostos pela sociedade.

Essa idéia de uma atividade mental inconsciente é um dos pressupostos fundamentais da Psicanálise. O inconsciente, às vezes imaginado como uma espécie de porão da mente ou psique, seria o depósito das tendências reprimidas do indivíduo as quais, como o desejo incestuoso do menino em relação à mãe, seriam banidas da vida consciente devido a sua ameaça potencial à ordem civilizada.

A repressão, porém, nunca é completa, dizia Freud: o reprimido no inconsciente estaria sempre forçando sua passagem ao plano consciente; as mensagens cifradas transmitidas pelo inconsciente permitiriam ao analista buscar a explicação da neurose e, daí, sua possível cura. A técnica psicanalítica teria, dessa maneira, muito a ver com a atividade do detetive nos romances policiais, que vai remontando, num árduo e cuidadoso trabalho de interpretação, a trama oculta.

Em suas primeiras investigações da mente, Freud empregou a hipnose para trazer à luz as cenas traumáticas do passado. Abandonou-a, porém, não só porque muitos pacientes não se deixavam hipnotizar, mas principalmente porque, embora a hipnose permitisse o acesso a memórias correspondentes a determinada região do inconsciente, criava, nas fronteiras dessa mesma região, barreiras ainda mais difíceis de serem transpostas.Freud substituiu então a hipnose pelo método da livre associação, em que o paciente, deitado num divã, de costas para não ser inibido pelo olhar e expressão facial do terapeuta, passaria a falar tudo o que lhe viesse à cabeça. Nesse trabalho de garimpagem do inconsciente seriam importantíssimas também as interpretações dos sonhos e dos atos falhos. Os sonhos, através de sua linguagem simbólica, dariam acesso direto ao material inconsciente. E os atos falhos, tais como os lapsos de linguagem que cometemos freqüentemente, seriam for adotadas pelas tendênciasreprimidas para forçar a passagem ao plano consciente.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

QI pode aumentar ou diminuir durante a adolescência


O coeficiente de inteligência, o QI, é variável, pelo menos ao longo da adolescência, segundo um estudo da University College London divulgado nesta quarta-feira (19). A pesquisa foi realizada com 33 voluntários adolescentes e, ao longo de quatro anos, mostrou que seus resultados em testes de QI variou em até 20 pontos, o que contradiz a ideia de que o índice seria algo fixo para toda a vida. O estudo também analisou imagens de ressonância magnética e concluiu que a flutuação do QI está relacionada com alterações na estrutura do cérebro.
O aumento no resultado do teste de QI verbal - que mede linguagem, aritimética, conhecimento geral e memória – está relacionado com o crescimento da massa cinzenta no córtex motor esquerdo, ligado a motricidade da fala. Já o aumento no resultado do teste de QI não-verbal – que se pede para identificar peças faltantes em quebra-cabeças – está relacionado ao crescimento da densidade de massa cinzenta em uma região anterior ao cerebelo, ligada ao movimento.
Os pesquisadores ainda não sabem o que causa a flutuação do QI na adolescência. “Ela pode ser ativada por efeitos ambientais como educação e aprendizado ou pode estar relacionada com diferenças no desenvolvimento do adolescente. Ou pode ser as duas coisas. É a clássica questão de quem veio primeiro, o ovo ou a galinha”, disse ao iG Sue Ramsden, autora do estudo publicado no periódico científico Nature. 

Sue afirma no entanto, que está quase certa que a mudança do QI seja mais afetada por fatores ambientais. “Nós sabemos que o cérebro do adulto muda com o aprendizado”, disse. A pesquisa testou apenas adolescentes, porém estudos anteriores mostraram que treinamento intenso pode alterar estruturas do cérebro. 

Adolescentes em teste
O estudo mediu o QI de 33 voluntários entre 12 e 16 anos e 2004 e depois comparou com os resultados medidos em 2008, quando eles tinham entre 15 e 20 anos. A pesquisa encontrou flutuação ente – 20 e +23 pontos, diferença suficiente para fazer uma pessoa que estava na média ir para acima da média ou abaixo da média. Cerca de 21% dos participantes mudaram de categoria.
“O aumento e a diminuição no score foi notada tanto em pessoas com alta e baixa habilidade. Não é o caso de jovens com baixo desempenho irem melhor e jovens de alto desempenho ir mal. Alguns de alto desempenho foram ainda melhores 3 alguns de baixo desempenho foram ainda pior”, disse Sue.
A pesquisadora acredita que o estudo tem grande valia sobre como a habilidade é avaliada nas escolas. “isto quer dizer que se um adolescente tem baixa habilidade verbal, isto não quer dizer que ele possa melhorar. Da mesma forma que um adolescente com alta habilidade também pode piorar caso não a pratique”, disse a pesquisadora. [Fonte: IG]

Qual a política por trás das 13 (des)razões do Conselho Federal de Psicologia?


Qual a política por trás das 13 (des)razões do Conselho Federal de Psicologia ao alegar defender a inclusão social de usuários de crack, álcool e outras drogas? 
[Gilberto Lucio da Silva1]

1. Optando por elencar exatos 13 pontos para sua argumentação (Por que não 14?), o CFP alega defender o Sistema Único de Saúde (SUS), e considera o conjunto das precariedades existentes como um dos maiores patrimônios nacionais. Embora inicialmente pensado como construção coletiva para cuidar da saúde da população brasileira, o que de fato se verifica no SUS que temos é a inadequação de equipamentos na maioria dos contextos que exigem atenção à saúde mental. Talvez fizesse bem aos conselheiros gastar parte dos recursos da categoria profissional inspecionando a rede (em muitos casos, evidentemente sucateada) que hipoteticamente deveria garantir ações de promoção, prevenção e tratamento de saúde, inclusive, mas não apenas, para a política de atenção aos agravos relacionados ao álcool e outras drogas. Hostilizar a rede de saúde privada, esperando que a população aguarde pelas benesses estatais que de fato nunca vêm, é discurso já bem representado por outras entidades na vida política do país.

2. Estranhamente, ao alegar defender os princípios e diretrizes do SUS, o CFP prefere destacar apenas o princípio organizativo da Participação, do qual apresenta uma nova interpretação. Na versão do CFP este princípio garante o direito do usuário de ser esclarecido sobre a sua saúde, de intervir em seu próprio tratamento e de ser considerado em suas necessidades, em função de sua subjetividade, crenças, valores, contexto e preferências. Isto é uma inovação, pois o princípio é especificamente voltado a garantir o exercício do controle social. Sobretudo, cabe questionar como priorizar aquele princípio em face dos princípios doutrinários da Universalidade de Acesso – a possibilidade de atenção a saúde de todos os brasileiros, conforme a necessidade, da Integralidade de Assistência – o direito ao atendimento em qualquer situação de risco ou agravo, e da Eqüidade – que nos lembra que o que determina o tipo e a prioridade para o atendimento é a necessidade das pessoas e o grau de complexidade da doença ou agravo. Mais ainda, o que dizer de outro princípio organizativo esquecido, o da Resolutividade, que diz da capacidade de dar uma solução aos problemas do usuário do serviço de saúde de forma adequada, no local mais próximo de sua residência ou encaminhando-o aonde suas necessidades possam ser atendidas conforme o nível de complexidade? Por que, afinal, um princípio é considerado pelo CFP como sendo superior (em seus termos: “especial”) diante dos demais? Esperar que a participação esclarecida do usuário – algo diverso do conceito de participação previsto no SUS – determinasse a intervenção em saúde é tentar priorizar a isenção em princípio, deixando a carga da decisão e a responsabilidade pelo resultado para o paciente.
[Fonte: UNIAD]

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Estudo indica que Facebook influenciaria estrutura cerebral

O Facebook altera o cérebro? Esta é a questão que um estudo incomum tenta responder sobre a rede social que tem 800 milhões de membros na internet.
Segundo os autores da pesquisa, voluntários colocados em um scanner tridimensional demonstraram ter estruturas maiores e mais densas em três áreas do cérebro quando vinculados a uma grande lista de amigos no Facebook, em comparação com outros que tinham poucos amigos online.
As três áreas são todas relacionadas com a capacidade de socialização. "O sulco temporal superior e o giro temporal médio estão associados à percepção social, do olhar das outras pessoas ou de pistas sociais advindas de expressões faciais", disse o cientista Ryota Kanai, da Universidade College London (UCL).
A terceira área, o complexo entorrinal, "estaria associada com a memória para rostos e nomes", acrescentou. Dois anos atrás, a neurocientista Susan Greenfield, da Universidade de Oxford, causou polêmica sobre o impacto das redes digitais nos jovens.
"A mente do século XXI seria quase infantilizada, caracterizada por curtos instantes de atenção, sensacionalismo, incapacidade de enfatizar e um senso de identidade instável", alertou Greenfield, em discurso na Câmara dos Lordes britânica.
Geraint Rees, professor de neurociências da UCL, disse que o novo estudo trouxe à tona questões-chave relativas a esta controvérsia. Entre elas, se o tamanho da área de socialização no cérebro nos leva a fazer mais amigos, se esta área é alterada pelas redes sociais na internet ou se esta relação é inócua. Para Rees, que liderou a pesquisa, este enigma de causa e efeito só poderá ser resolvido com estudos posteriores.
Em seu estudo, Rees recrutou 125 estudantes, 46 deles homens, com idade média de 23 anos. Seus amigos no Facebook variaram entre um punhado até quase mil. A média estimada seria de 300 amigos por voluntário. Os resultados foram, então, checados em busca de quaisquer dados tendenciosos com uma amostra em separado, composta por 40 voluntários.
Em um terceiro experimento, os cientistas analisaram mais de perto uma subamostra de 65 voluntários para ver se, na estrutura cerebral, havia relação entre o mundo digital e o mundo real. Além de se submeter a um exame de escâner cerebral, o grupo também preencheu um questionário sobre seus amigos no mundo real.
Ao combinar os registros de amizade do mundo real com as dos amigos online, os cientistas descobriram apenas uma correlação na substância cerebral. Ela foi detectada em uma área denominada amígdala bilateral, que acredita-se que processe e armazene as memórias de eventos emocionais.
Esta associação não foi encontrada nas três áreas cerebrais - o sulco temporal superior, o giro temporal médio ou o complexo entorrinal -, realçadas no primeiro experimento. Rees afirmou que isto pode significar que diferentes áreas do cérebro são usadas para diferentes formas de socialização.
O estudo será publicado na edição desta quarta-feira do periódico Proceedings of the Royal Society B, da Academia de Ciências britânica. [Fonte: Terra]


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Agimos melhor quando somos observados, diz pesquisa

Quando uma pessoa acredita que alguém a está olhando, tende a expressar uma desaprovação maior em relação às transgressões morais
Foto: Getty Images
Embora possa parecer discutível, à luz dos extravagantes comportamentos que às vezes exibem perante os espectadores os protagonistas do reality show Big Brother em diferentes lugares do mundo, há indícios de que nos sentirmos observados por outras pessoas pode ter alguns efeitos positivos em nossas atitudes e condutas.
Não é preciso chegar aos extremos do programa de televisão, no qual um grupo de pessoas fica trancado durante meses em uma casa enquanto sua convivência cotidiana é transmitida ao vivo 24 horas por dia por uma série de câmeras para os espectadores.
Também não se trata de imitar o Big Brother no qual se inspira o programa, um desconhecido e enigmático personagem de George Orwell que em seu romance 1984 governa a população, vigia os cidadãos, controla sua informação e está sempre presente em suas vidas por uma série de telas catódicas.
Basta que uma pessoa se sinta observada, embora não seja de todo consciente disso, para que veja seus juízos morais fortalecidos, segundo uma pesquisa comandada pelo médico Pierrick Bourrat, do departamento de Filosofia da Universidade de Sydney, na Austrália, em colaboração com Nicolas Baumard, da Universidade Pensilvânia (EUA) e Ryan McKay, da Universidade de Londres (Reino Unido).
Os pesquisadores comprovaram que quando uma pessoa acredita que alguém a está olhando, tende a expressar uma desaprovação maior em relação às transgressões morais dos demais em comparação com aqueles que não se sentem observados. De acordo com o estudo, resenhado na revista Evolutionary Psychology, isto demonstra que no ser humano ocorre um processo mental sensível aos juízos de presenças conhecidas ou vistas.
Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores apresentaram a um grupo de pessoas duas situações nas quais aconteceram transgressões morais: ficar com o dinheiro de uma bolsa alheia achada e falsificar um curriculum vitae, explica o serviço de informação científica Tendencias 21.
Se me olham, me comporto melhor
Metade dos participantes foi exposta a estas situações em uma folha de papel na qual também aparecia a imagem de olhos, e a outra metade foi apresentada as mesmas situações, acompanhadas por uma imagem de flores. Quem via os olhos, avaliou ambas as transgressões (ficar com o dinheiro alheio e falsificar um documento) como moralmente menos aceitáveis que aqueles que viram flores.
"Destas reações pode se concluir que os sinais de vigilância, representadas pela imagem dos olhos, teriam ativado as normas morais interiorizadas dos participantes, também conhecidas como autoconsciência particular", explicou Bourrat. Segundo o pesquisador, além disso se teria iniciado a denominada autoconsciência pública, que é "a impressão de que as ações pessoais se ajustam ou não ao padrão das normas morais aceitas".
"As pessoas que demonstram um apoio explícito aos modelos compartilhados de comportamento estariam motivadas por um desejo de manter sua reputação. Se não expressam tal apoio às normas morais podem gerar suspeita em outros", acrescenta.
Em uma pesquisa anterior, publicada na revista da Academia de Ciências da Grã-Bretanha, uma equipe de especialistas britânicos comprovou que se um indivíduo supõe que está sendo observado, tende a se comportar com mais honra em sua vida diária.
Para seu experimento, os pesquisadores em Biologia e Psicologia da Universidade de Newcastle utilizaram uma denominada "caixa da honra", para que o comprador pusesse em seu interior a quantidade de dinheiro que considerasse mais oportuna, de acordo com seu livre arbítrio. A peculiar caixa esteve instalada na Universidade de Newcastle, com o objetivo de arrecadar o pagamento de bebidas de uso partilhado entre cerca de 50 pessoas.
De modo similar ao experimento liderado pela Universidade de Sydney, sobre a caixa se colocava algumas vezes um cartaz com a imagem de dois olhos e outras vezes outro sinal na qual se viam duas flores. Assim se descobriu que as pessoas jogavam três vezes mais dinheiro quando em cima da caixa estava a imagem de olhos, em comparação a quando aparecia a foto das flores.
"As estatísticas mostram que os olhos têm um grande impacto no comportamento das pessoas, neste caso em particular entre os universitários consumidores de café ou chá", assinalou Melissa Bateson, bióloga do comportamento da Universidade de Newcastle, e diretora da pesquisa. [Fonte: Terra]